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Dificuldade em dizer não

Uma armadilha que talvez esteja te prendendo, mas que você mesmo criou.

Viver em sociedade é fazer concessões. Para vivermos bem temos que nos adaptar a diversas formas de ver a vida e as contrariedades que podemos nos deparar diariamente. Uma vida saudável está justamente em equilibrar esses fatores, de forma com que o ambiente social a qual estamos inseridos caminhe bem. Todavia, fazer concessões e se adaptar às contrariedades não significa que deve-se aceitar tudo, evitando a todo o custo se indispor em algum momento com alguém. Algumas pessoas, não sabendo dosar esses fatores, acabam caindo em uma armadilha que é tentar agradar a todo mundo, não sabendo como dizer não. Essa armadilha esconde algumas faces, que vamos falar a seguir.

Se você é uma pessoa que não consegue dizer não para as pessoas, sabe que isso é incômodo. Você pode ter a intenção de ajudar as pessoas, o que é muito bom, mas sabe que isso não é possível todo o tempo e que em algumas oportunidades fica muito difícil atender ao pedido de uma pessoa, pois você também tem as tuas obrigações e necessidades. Diga a verdade: você já disse sim para algumas pessoas em ocasiões que sabia que deveria dizer não, não é? Não há problema algum em dizer não quando não é possível auxiliar uma pessoa.

Há alguns motivos que levam alguém a sempre dizer sim para os outros, mesmo que isso a prejudique e a angustie. O medo da rejeição é um deles. Pessoas que cresceram com muitas inseguranças tem maior dificuldade em dizer não, pois temem serem rejeitadas, ou serem criticadas. Mesmo esse temor tendo uma provável raiz que vem desde a infância, a pessoa tem que compreender, e se esforçar, para viver de outra forma na vida adulta. Por mais que a infância tenha tido seus traumas, esses devem ser trabalhados na vida adulta para que não mais determinem as atitudes do indivíduo. É preciso ter maturidade, principalmente para compreender que as críticas fazem parte da estrutura do convívio social. Nem todo mundo vai gostar da tua roupa, do teu cabelo, do teu tom de voz, da profissão que você escolheu, da forma como você trabalha, dos gostos que você tem, e assim por diante. Não é possível agradar todo mundo a todo o tempo, a crítica sempre existirá, mesmo que velada.

Outro motivo comum, que geralmente tem a mesma raiz em inseguranças da infância, é a auto-referência na vida adulta. O indivíduo acredita que tudo se refere a ele, que todas as pessoas estão constantemente prestando atenção no que ele faz, por esse motivo tem quase que uma obrigação moral de ser um modelo de boa conduta, bondade e servidão. Cria-se uma autoimagem sobre como se deseja ser e sobre como quer que os outros o vejam, daí se trabalha para que essa projeção não seja desfeita de forma alguma, nem que para isso tenha que se negar o tempo todo, dizendo sim para todas as demandas dos outros, enquanto se deixa de lado as próprias necessidades.

A autossuficiência também é um dos motivos que impedem as pessoas de dizerem não. A diferença é que essa pessoa tenta validar seus sentimentos através da superioridade que julga ter, por isso age como se só ela fosse detentora do saber, e todos os outros, sem ela, não conseguirão sobreviver. Nesse momento ela “veste seu traje de super herói” para auxiliar quem, na opinião dela, é um fraco e oprimido. Geralmente, esse sujeito oscila o comportamento, que mesmo aceitando tudo, pode usar da arrogância ou certo cinismo em muitos momentos, não cultivando sempre a imagem de alguém considerado “bonzinho”.

Inseguranças, que muitas vezes provém do tipo de criação que se teve e da maneira como conceitos sociais foram compreendidos, conduz a pessoa a sempre dizer sim para os outros. Como uma muleta para justificar sua confusão, ela pode criar um ideal quase missionário, uma visão equivocada do altruísmo.

Não quero dizer, de forma alguma, que a pessoa deve deixar de ajudar as outras. Servir ao próximo, ajudar em suas necessidades, trocar experiências, ser bom, agir de uma forma amigável, são coisas que devemos procurar fazer diariamente, todavia, ao mesmo tempo, temos que entender que em algumas oportunidades isso não será possível e que dizer não em algumas oportunidades não faz de ninguém uma pessoa ruim. Algumas vezes há outros compromissos, o que pode impossibilitar estar disponível naquela ocasião.
Voltando aos exemplos, não tenha medo de críticas, caso não possa auxiliar alguém em dado momento. Não queira agradar todo mundo, pois esse é um fardo que ninguém deve tentar carregar. Desconstrua a imagem de alguém que deve ser um modelo de servidão e bondade, pois até mesmo aqueles que mais servem aos outros e são bons, sabem que em algumas circunstâncias o ato de dizer não é um serviço de bondade ao outro. O tratamento psicanalítico ajuda o paciente a trabalhar alguns conjuntos de crenças que são prejudiciais, como a auto-referência. As pessoas estão em constante modificação e evolução. O que se é hoje pode ser diferente amanhã. O que se gosta hoje, pode já não parecer tão bom amanhã. Da mesma forma, tentar preservar sempre a mesma imagem projetada, sem permitir as oscilações naturais da vida cotidiana, prende as pessoas em um sofrimento silencioso. Deve-se também não esquecer que ninguém é super herói e tem a solução para todos os problemas dos outros, fazendo disso algo que apenas esconde as próprias inseguranças e desconexão sobre como se deve socializar nesse sentido.

Quando devo procurar ajuda? Consigo vencer sozinho?

Procurar ajuda profissional é extremamente importante, pois dificilmente conseguirá mudar sozinho. Diferentemente, por exemplo, da ansiedade, onde a pessoa deseja não mais tê-la, o trabalho com a pessoa que encontra dificuldade em dizer não é uma intervenção de autoconhecimento. A pessoa não deixará de ajudar os outros, nem deseja isso. Ela apenas terá que saber quando deve-se ou não aceitar um pedido. Como não há um referencial claro para ela (como quem deseja abandonar um vício, onde sabe-se que deve parar com um mau hábito), a pessoa que aceita tudo se perde dentro da própria confusão, conjuntos de crenças e inseguranças, não obtendo êxito sozinha, pois tem dificuldade em distinguir e isolar as diferentes situações.

O profissional de psicanálise irá trabalhar com o paciente a origem desse conflito, ajudando-o a reconhecer o que o levou a sempre agir dessa maneira, fazendo-o compreender diferentes facetas dentro de várias situações comuns a todos.

Por esse motivo, buscar ajuda é urgente!!!

Quando dizer não é um ato de bondade?

Algumas pessoas podem se deparar com pessoas aproveitadoras, que só querem fazer uso da bondade alheia para benefício próprio, pedindo ajuda mesmo quando elas mesmas têm total possibilidade de fazer aquilo que pediram ao outro. Em outros casos, nos deparamos com pessoas boas, mas que encontram dificuldades em efetuar alguma tarefa, ou desconhecem quase que totalmente aquilo que precisam fazer. Em ambos os casos, dizer sempre sim cultiva na pessoa coisas ruins. Caso se diga sempre sim para uma pessoa aproveitadora, se cultiva nela essa má conduta, pois ela sempre vai procurar alguém que faça por ela, assim mantendo uma característica imoral na própria personalidade. No outro caso, se dissermos sempre sim para uma pessoa, mesmo ela sendo boa, mas que tem dificuldade em fazer uma coisa, cultivaremos nela essa inabilidade para o ato. Exceto pessoas que tem alguma condição que torna praticamente inviável que ela faça determinada coisa, como idade avançada ou alguma questão de saúde, devemos sempre desejar que o outro obtenha autonomia, então, talvez seja prudente ao invés de dizer sim para todo mundo, tentar ensinar as pessoas a aprenderem fazer aquilo que elas precisam. Lógico que deve-se sempre analisar cada situação com bom senso, sendo flexível.

Coisas que você não pode esquecer!

No começo deste artigo escrevi que temos que ter em mente que viver em sociedade é fazer concessões: você ainda vai dizer sim para algumas coisas que não gostaria, esse não é o problema. O problema é dizer sim para tudo, mesmo quando não pode, não quer, ou não deveria dizer. É importante lembrar que estamos falando de ajuda voluntária.

Continue auxiliando os outros e sendo uma pessoa boa, mas saiba que há um equilíbrio a ser seguido. Não queira ser imune às críticas, pois sempre alguém vai te criticar, mesmo que você não saiba. Também não idealize uma imagem perfeita de si, que não pode ser abalada, pois essa é uma forma de viver que não vale a pena ser vivida.

Lembre-se de que muitas vezes você pode dar a oportunidade das outras pessoas melhorarem, tentando resolver as próprias dificuldades. Isso faz parte do desenvolvimento humano. Da mesma forma que você sabe fazer algo e isso é bom, pense no quão bom será se quem precisa souber fazer as mesmas coisas. Ao invés de sempre fazer tudo por alguém, o ajude a também desenvolver aquela habilidade. Isso é um ato de bondade enorme.

Para finalizar, não se torne uma pessoa que passa a dizer não para tudo também. Ajudar os outros é bom, e sempre devemos ter em mente que também precisamos da ajuda dos demais, pois não sabemos fazer tudo.
Se você percebe que o tema tratado neste artigo é um objeto de mudança que você precisa efetuar em sua vida, não deixe de buscar ajuda especializada. Com certeza o tratamento psicanalítico te ajudará a viver em equilíbrio, o que será excelente para você e para os outros. Todos sairão ganhando!

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