Quando se fala em psicanálise, muitos ainda associam à clínica, ao divã, à introspecção do consultório.
Mas o campo psicanalítico é, acima de tudo, uma teoria da escuta — e a escuta pode (e deve) ocupar muitos espaços, inclusive o institucional.
Nas empresas, a psicanálise não chega para corrigir condutas.
Ela chega para revelar sentidos.
E onde há sentido, há potencial de transformação.
A escuta psicanalítica é diferente da escuta técnica
Ela não julga.
Não tenta resolver imediatamente.
Não impõe manuais.
Ela abre espaço para que o sujeito fale — e descubra, por meio da própria fala, aquilo que precisa ser reorganizado.
Esse tipo de escuta é raro nas empresas.
Mas quando ela acontece, algo novo se instala: a cultura começa a se escutar também.
O discurso organizacional fala — mas também silencia
A psicanálise nas empresas ajuda a dar nome ao que é velado:
- ao sofrimento que aparece como “queda de produtividade”;
- à ansiedade que se expressa como hiperatividade;
- à frustração que se esconde em “baixo engajamento”.
O sintoma coletivo começa a ganhar nome.
E quando algo é nomeado, ele pode ser transformado.
Transformação real não nasce da imposição.
Ela nasce da escuta.
Não basta impor programas de bem-estar.
É preciso escutar o que o ambiente de fato comunica.
Porque toda empresa tem uma linguagem inconsciente.
E toda mudança real passa por ela.
A escuta psicanalítica convida à maturidade institucional
Uma empresa que escuta sem pressa, sem fórmula e com ética cria um campo fértil:
- para relações mais genuínas,
- para vínculos mais saudáveis,
- para lideranças mais humanas,
- e para um cotidiano onde o cuidado não seja exceção.
A escuta psicanalítica não tem a resposta.
Mas ela sabe onde procurar.
No sujeito. No discurso. Naquilo que é dito — e no que não é.
Quando o cuidado encontra espaço
Se esse tema te atravessou de alguma forma — seja como gestor, colaborador ou profissional de escuta —, que essa reflexão siga contigo.
Que a saúde mental deixe de ser silenciada.
E que o cuidado encontre, cada vez mais, espaço para existir.
No próximo artigo da série, abordaremos especificamente: Saúde mental não se terceiriza. Se integra.
Vera Ribeiro – Psicanalista
Especialista em escuta clínica e institucional.