Cada vez mais empresas contratam palestras, rodas de conversa, campanhas de saúde mental.
E sim — tudo isso pode fazer parte de um movimento legítimo de transformação.
Mas há um ponto essencial que não pode ser ignorado:
Saúde mental não é um evento. É um modo de existir.
E isso não se terceiriza. Se integra.
O perigo da terceirização simbólica
Muitas organizações contratam ações pontuais, mas mantêm as mesmas práticas tóxicas no dia a dia.
- Lideranças continuam não escutando.
- Demandas desumanas seguem sendo normalizadas.
- O emocional ainda é tratado como “assunto pessoal”.
Cuidar precisa ser uma prática incorporada — e não uma performance
O cuidado real se vê na escuta cotidiana.
No modo como as reuniões acontecem.
Na maneira como o erro é tratado.
Na segurança emocional para dizer: “não estou bem”.
É nesse ponto que a saúde mental deixa de ser um protocolo — e se torna parte da cultura.
Psicanaliticamente falando, o sujeito precisa ter lugar
Não basta incluir o tema nas campanhas internas.
É preciso garantir que o sujeito seja reconhecido em sua singularidade, em sua palavra, em seu tempo, em seus limites.
Empresas que entendem isso saem do ciclo de remediação e entram na prática da prevenção.
Cuidado não se contrata.
Se sustenta — dia após dia.
Cuidar da saúde mental é um projeto contínuo.
Feito com escuta, com coerência, com intenção real.
Porque o verdadeiro bem-estar não vem de fora.
Ele nasce dentro.
E precisa ser sustentado por todos.
Quando o cuidado encontra espaço
Se esse tema te atravessou de alguma forma — seja como gestor, colaborador ou profissional de escuta —, que essa reflexão siga contigo.
Que a saúde mental deixe de ser silenciada.
E que o cuidado encontre, cada vez mais, espaço para existir.
No próximo artigo da série, abordaremos especificamente: Antes do adoecimento, existe o silêncio.
Vera Ribeiro – Psicanalista
Especialista em escuta clínica e institucional.