A saúde emocional no ambiente de trabalho deixou de ser uma pauta opcional. Hoje, ela é parte da sustentabilidade humana e organizacional.
Vivemos em um tempo em que o trabalho deixou de ser apenas função — ele passou a ocupar espaço na identidade, no corpo e na mente das pessoas.
Por isso, falar sobre saúde mental nas empresas é, mais do que necessário, inadiável.
Quando uma empresa ignora os sinais do adoecimento psíquico, ela paga um preço alto — mesmo quando o custo não aparece nas planilhas.
A exaustão emocional se expressa de maneiras sutis:
- O colaborador que entrega o que precisa, mas sem brilho.
- A líder que se cala nas reuniões, por estar emocionalmente esgotada.
- A equipe que funciona no automático, mas sem conexão.
Esses sinais sinais não costumam ser reconhecidos como sintomas. Mas são. São sintomas de um ambiente onde o emocional não tem preço.
A psicanálise nos ensina que o que não pode ser dito, será vivido no corpo, nas ausências, nos rompimentos — ou nos pedidos de demissão silenciosos.
O impacto silencioso: presenteísmo e esvaziamento
Se o absenteísmo é o ato de faltar, o presenteísmo é o ato de comparecer sem estar de fato presente.
E esse segundo fenômeno, tão difícil de mensurar, é hoje uma das maiores fontes de prejuízo emocional e financeiro nas empresas.
As pessoas se fazem presentes com o corpo, mas já não têm energia para criar, propor, colaborar.
É o esgotamento emocional que se instala onde não há escuta.
Cuidar da mente é cuidar da cultura da empresa
Não se trata apenas de oferecer benefícios ou campanhas pontuais.
Trata-se de transformar a cultura da empresa em uma cultura de cuidado.
Isso significa escutar mais, julgar menos.
Observar comportamentos, mas também oferecer espaços de fala.
Reconhecer o sofrimento antes que ele se transforme em afastamento ou ruptura.
Uma empresa que cuida é uma empresa que cresce com consciência
E aqui não falamos de uma “empresa boazinha”.
Falamos de uma empresa madura, que entende que só há entrega real quando há bem-estar.
Que sabe que o humano vem antes do recurso.
E que compreende que saúde emocional não é custo.
É o investimento mais inteligente que se pode fazer.
Quando o cuidado encontra espaço
Se esse tema te atravessou de alguma forma — seja como gestor, colaborador ou profissional de escuta —, que essa reflexão siga contigo.
Que a saúde mental deixe de ser silenciada. E que o cuidado encontre cada vez mais espaço para existir.
No próximo artigo da série, abordaremos especificamente: Cuidar de quem cuida: líderes também adoecem.
Vera Ribeiro – Psicanalista
Especialista em escuta clínica e institucional.