Durante muito tempo, escutar foi confundido com perder tempo.
Uma reunião que escuta “problemas” é vista como improdutiva.
Uma pausa para acolher um colaborador é vista como quebra de foco.
Mas a psicanálise nos ensina algo diferente: a escuta não atrasa o processo. Ela funda o processo.
Porque onde não há escuta, não há sujeito inteiro. E sem sujeito, não há entrega com sentido.
A escuta verdadeira é estratégica
Escutar o colaborador não é apenas ouvir o que ele diz.
É ler os silêncios.
É legitimar o mal-estar.
É permitir que a palavra circule — sem medo de represálias.
Ambientes onde o colaborador pode existir com verdade são também os que produzem com mais consistência.
A produtividade que adoece é insustentável
Forçar resultados sem escuta cria um ciclo doente:
- Entrega sob pressão
- Adoecimento silencioso
- Queda de motivação
- Sintomas invisíveis
- Afastamentos inesperados
A escuta interrompe esse ciclo.
Ela sinaliza: “você pode existir aqui como pessoa.”
E esse é o maior motivador que existe.
Escutar é reconhecer o humano como parte da estratégia
Uma empresa que escuta não ignora metas — mas reconhece que os meios para alcançá-las passam pelo emocional.
Colaborador escutado é colaborador presente.
Presença gera vínculo.
E o vínculo sustenta a produtividade com raízes profundas.
Não se trata de escutar por gentileza.
Mas por inteligência relacional.
Porque uma empresa que só escuta quando há crise, escuta tarde demais.
A escuta precisa estar antes da ruptura.
Antes do sintoma.
Antes da perda.
Escutar é prevenir.
É cuidar.
É produzir com integridade.
Quando o cuidado encontra espaço
Se esse tema te atravessou de alguma forma — seja como gestor, colaborador ou profissional de escuta —, que essa reflexão siga contigo.
Que a saúde mental deixe de ser silenciada.
E que o cuidado encontre, cada vez mais, espaço para existir.
No próximo artigo da série, abordaremos especificamente: Psicanálise nas empresas: escutar para mudar.
Vera Ribeiro – Psicanalista
Especialista em escuta clínica e institucional.