O líder é, muitas vezes, visto como aquele que inspira, direciona, resolve.
É para ele que todos olham nos momentos difíceis.
É dele que se espera a postura firme, a resiliência, a clareza.
Mas, em meio a tantas expectativas, uma pergunta quase nunca é feita:
Quem escuta o líder?
Em muitas empresas, a saúde emocional das lideranças é negligenciada.
Há uma crença implícita de que o líder “aguenta”, “dá conta”, “foi preparado para isso”.
Mas a psicanálise nos mostra que por trás do cargo, há uma pessoa.
E pessoas também adoecem.
O cansaço invisível de quem sustenta a estrutura
Os líderes ocupam uma posição de transição: são ponte entre a alta gestão e as equipes.
Recebem pressões de cima, expectativas de baixo, cobranças de todos os lados.
E nesse lugar, frequentemente solitário, o emocional vai sendo engolido pela funcionalidade.
- A ansiedade se disfarça de produtividade.
- O medo de falhar se mascara como hipercontrole.
- A exaustão aparece no corpo — dores, insônia, fadiga — mas não encontra nome.
Até que um dia, esse corpo pede socorro.
Ou silencia de vez.
O silêncio que vem com o crachá de liderança
O sofrimento psíquico de quem lidera muitas vezes não é legitimado.
“Você é forte.”
“Você não pode demonstrar fraqueza.”
“Se você cair, a equipe desmorona.”
Essas frases, repetidas dentro e fora das empresas, produzem um tipo de solidão que adoece lentamente.
A liderança sem escuta se torna um fardo.
E não um lugar de potência.
Liderar com saúde é liderar com humanidade
Cuidar da saúde mental das lideranças não é luxo — é sustentabilidade organizacional.
Quando o líder tem espaço para elaborar suas angústias, seus medos, suas tensões, ele se torna mais disponível para escutar, acolher, orientar.
Uma liderança emocionalmente saudável cria espaços de confiança.
Confiança gera pertencimento.
E pertencimento sustenta resultados.
Cuidar de quem cuida é também um ato de lucidez organizacional
Empresas que olham para a saúde emocional dos seus líderes não apenas evitam rupturas.
Elas criam culturas mais conscientes, maduras e capazes de lidar com os desafios com mais integridade.
Porque o cuidado começa onde menos se espera:
no espaço onde o “forte” também pode ser escutado.
Quando o cuidado encontra espaço
Se esse tema te atravessou de alguma forma — seja como gestor, colaborador ou profissional de escuta —, que essa reflexão siga contigo.
Que a saúde mental deixe de ser silenciada.
E que o cuidado encontre, cada vez mais, espaço para existir.
No próximo artigo da série, abordaremos especificamente:
A nova legislação exige. Mas o cuidado precisa ser verdadeiro.
Vera Ribeiro – Psicanalista
Especialista em escuta clínica e institucional.