O colaborador não adoece de um dia para o outro.
A ruptura não acontece sem sinais.
A exaustão, o afastamento, o desânimo — tudo isso é o capítulo final de um processo que começou muito antes: com o silêncio.
O sintoma não chega de repente
Ele se acumula onde não há escuta.
Silêncios pequenos, quase imperceptíveis:
- Quando alguém para de participar das reuniões.
- Quando o brilho nos olhos desaparece.
- Quando o corpo vem, mas a mente não está.
- Quando o cansaço se torna norma.
Esses são os primeiros sinais do sujeito que se cala, porque aprendeu que falar não adianta.
Ou que sentir é inadequado. Ou que sofrer é “coisa de gente fraca”.
O silêncio institucionaliza o sofrimento
Empresas que ignoram os sinais acabam normalizando o mal-estar.
E aos poucos, o sofrimento passa a ser parte da paisagem.
Até que explode — em forma de burnout, conflitos, pedidos de demissão, ou afastamentos inesperados.
Escutar antes que o sintoma fale alto demais
A escuta psicanalítica nos ensina a reconhecer o invisível.
A escutar o que ainda não virou grito.
A acolher antes que se rompa.
A perguntar antes que o corpo adoeça.
Porque há sempre um momento em que ainda é possível cuidar.
E esse momento é antes.
O silêncio nunca é neutro.
Ele é sempre um pedido.
Quando alguém silencia, está comunicando algo.
Talvez não saiba como.
Talvez tenha aprendido que não pode.
Mas mesmo o silêncio carrega uma mensagem.
A empresa que se dispõe a escutar o silêncio está um passo à frente.
Não na gestão. Mas na humanidade.
Quando o cuidado encontra espaço
Se esse tema te atravessou de alguma forma — seja como gestor, colaborador ou profissional de escuta —, que essa reflexão siga contigo.
Que a saúde mental deixe de ser silenciada.
E que o cuidado encontre, cada vez mais, espaço para existir.
Este artigo encerra a série “Saúde Mental nas Empresas”. Que ele sirva como um convite permanente à escuta, à reflexão e à transformação.
Vera Ribeiro – Psicanalista
Especialista em escuta clínica e institucional.