Ao assinar um contrato de trabalho, ninguém menciona o que sente.
Acordam-se horários, entregas, responsabilidades, direitos e deveres.
Mas há uma parte desse contrato que nunca é escrita — e ainda assim pesa: o emocional.
E é justamente nele que se constrói (ou destrói) o vínculo.
A psicanálise nos convida a olhar para o que não está no papel, mas se inscreve nas relações.
A cláusula invisível é afetiva
É nela que mora a expectativa de respeito.
É nela que vive o desejo de reconhecimento.
É ela que sofre quando há desrespeito, humilhação, invisibilidade.
Toda empresa tem uma cultura emocional.
Toda relação de trabalho está atravessada por afetos, medos e desejos.
Fingir que isso não existe é manter o vínculo em falso.
O contrato emocional se rompe antes do pedido de demissão
Quando o colaborador se afasta emocionalmente, muitas vezes o vínculo já foi rompido.
O que permanece é a formalidade.
Mas já não há pertencimento, entrega, escuta.
É nesse ponto que o adoecimento começa — e ninguém percebe.
Vínculo emocional saudável é também produtividade sustentável
Empresas que reconhecem o valor da escuta, da confiança e do acolhimento não fazem “favores emocionais”.
Elas fortalecem o próprio contrato formal, porque gente que se sente respeitada trabalha com mais presença.
Não é sobre ser empresa boazinha.
É sobre ser empresa lúcida.
Rever o invisível é reescrever o contrato
A saúde mental precisa ser parte do ambiente de trabalho como algo real, vivo, legítimo.
Não para entrar como cláusula jurídica, mas como prática ética.
Quando a empresa entende que o vínculo não é só técnico, mas humano, ela se posiciona onde poucas conseguem: no território da maturidade.
Quando o cuidado encontra espaço
Se esse tema te atravessou de alguma forma — seja como gestor, colaborador ou profissional de escuta —, que essa reflexão siga contigo.
Que a saúde mental deixe de ser silenciada.
E que o cuidado encontre, cada vez mais, espaço para existir.
No próximo artigo da série, abordaremos especificamente: Quando a empresa escuta, a produtividade responde.
Vera Ribeiro – Psicanalista
Especialista em escuta clínica e institucional.