“Ela sempre deu conta de tudo.”
“Ele parecia tão forte.”
“Foi tudo tão de repente.”
Essas frases se repetem nos corredores das empresas quando um colaborador entra em colapso emocional.
Mas a verdade é que nada acontece de repente.
O burnout, como qualquer forma de adoecimento psíquico, não começa na exaustão. Começa no silêncio.
O cansaço que não tem nome
Antes do colapso, houve muitas manhãs difíceis.
Antes da queda de rendimento, houve noites sem sono.
Antes da ausência completa, houve uma presença esvaziada.
A exaustão emocional se constrói aos poucos — e quase sempre em silêncio.
É o silêncio de quem carrega sobrecarga sem poder nomear.
É o silêncio de quem acredita que não pode pedir ajuda.
É o silêncio de quem teme ser visto como fraco.
Ambientes que silenciam emoções alimentam sintomas
Quando a cultura organizacional prioriza metas e controle, mas não legitima a vulnerabilidade, o sintoma aparece.
- Cansaço crônico
- Irritabilidade
- Isolamento
- Queda de motivação
- Presença física com ausência subjetiva
O sintoma é a linguagem do que não pôde ser dito.
E onde não há espaço para dizer, há risco de adoecer.

A escuta é o que pode interromper o ciclo
A psicanálise nos mostra que a palavra pode organizar o que o sintoma tenta comunicar.
Por isso, escutar o que parece “menor”, acolher o que parece “drama” e levar a sério o que muitos minimizam é uma forma de prevenção real.
O burnout não começa quando a pessoa se afasta.
Ele começa quando ela já não pode mais ser quem é — e precisa apenas funcionar.
Silenciar o emocional é adoecer a cultura
A empresa que não escuta os pequenos sinais, acaba gerando grandes rupturas.
E quando o burnout se instala, ele não afeta apenas uma pessoa.
Ele desorganiza times, fragiliza a confiança e compromete o futuro.
Prevenir não é apenas agir quando já é tarde.
É abrir espaço antes que o grito venha.
Quando o cuidado encontra espaço
Se esse tema te atravessou de alguma forma — seja como gestor, colaborador ou profissional de escuta —, que essa reflexão siga contigo.
Que a saúde mental deixe de ser silenciada.
E que o cuidado encontre, cada vez mais, espaço para existir.
No próximo artigo da série, abordaremos especificamente: Ambiente tóxico tem CNPJ.
Vera Ribeiro – Psicanalista
Especialista em escuta clínica e institucional.