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Apego Emocional: Você Precisa do Outro Para se Sentir Bem?

O apego emocional pode ser saudável, mas quando se torna dependência afetiva, compromete a nossa autonomia emocional e pode gerar relacionamentos tóxicos.

O desejo de estar em um relacionamento é natural. Somos seres sociais e buscamos conexão.

Mas até que ponto essa necessidade é saudável?

Você já sentiu que depende do outro para se sentir completo?

Que a ideia de ficar sozinho te gera angústia?

O apego emocional é um tema central na psicanálise, pois revela muito sobre nossos vínculos afetivos, nossa história emocional e os padrões que repetimos, muitas vezes sem perceber.

Hoje, vamos explorar como a psicanálise compreende essa questão e o que significa realmente desenvolver autonomia emocional.

Apego Emocional: Laço ou Corrente?

🔸 O que é apego emocional?

Na infância, aprendemos a nos vincular com o outro de acordo com a forma como fomos acolhidos e cuidados. Freud, ao estudar a primeira infância, percebeu que a maneira como somos nutridos emocionalmente determina nossa relação com o desejo e com a falta.

Já na teoria do apego, de John Bowlby, entendemos que nossas primeiras experiências com figuras de cuidado criam modelos internos que nos acompanham na vida adulta.

Em outras palavras, a forma como amamos e nos deixamos amar tem raízes profundas na nossa psique.

No entanto, há uma diferença fundamental entre apego emocional e dependência emocional.

O apego é necessário para criar vínculos e dar sentido à existência. A dependência, por outro lado, nos aprisiona e nos impede de construir uma identidade autônoma.

Enquanto o apego saudável fortalece, a dependência emocional fragiliza. E muitas vezes confundimos os dois.

O Que a Psicanálise Nos Ensina Sobre o Apego?

Para a psicanálise, o apego emocional tem ligação direta com a forma como lidamos com a falta.

Desde o nascimento, o ser humano experimenta a ausência. Quando o bebê chora, ele expressa uma necessidade de alimento, de acolhimento, de presença materna. Se essa necessidade é atendida de forma previsível, a criança desenvolve uma confiança básica no mundo.

Mas o que acontece quando essa falta não é bem elaborada?

🔹Se fomos criados em um ambiente imprevisível, onde o afeto vinha e ia sem explicação, podemos crescer com medo do abandono, desenvolvendo um apego ansioso.

🔹Se a nossa experiência infantil foi de distanciamento emocional, podemos internalizar a crença de que não podemos contar com ninguém e desenvolver um apego evitativo.

🔹Em casos mais extremos, onde há negligência ou experiências traumáticas, podemos carregar um padrão de apego desorganizado, onde buscamos proximidade, mas ao mesmo tempo tememos a intimidade.

Essas estruturas não são sentenças definitivas, mas funcionam como lentes através das quais interpretamos nossos relacionamentos. Muitas vezes, a angústia que sentimos quando estamos sozinhos tem mais a ver com nossa história do que com o presente.

O Medo da Solidão e o Vazio Interno

Na clínica psicanalítica, um dos temas mais recorrentes é o medo da solidão. Não porque as pessoas simplesmente preferem estar acompanhadas, mas porque estar sozinho significa entrar em contato com aspectos da própria psique que foram evitados durante anos.

A solidão traz à tona angústias que, quando estamos em um relacionamento, podem ser temporariamente silenciadas. Isso explica por que muitas pessoas se agarram a relações que já não fazem sentido: melhor um vínculo disfuncional do que o vazio da própria companhia.

Mas esse vazio não é o problema. Pelo contrário, ele é parte fundamental do que nos torna humanos. A questão é: conseguimos suportá-lo sem buscar preenchimentos externos imediatos?

Para Lacan, o ser humano está sempre em busca de um objeto perdido, algo que possa preencher a falta que nos constitui. No entanto, essa busca nunca é plenamente satisfeita. O problema surge quando tentamos encontrar essa completude no outro, acreditando que um relacionamento pode nos salvar do nosso próprio vazio.

É por isso que a autonomia emocional não significa apenas estar bem sozinho, mas sim aprender a lidar com a própria falta sem depositá-la no outro.

Como Desenvolver Autonomia Emocional na Perspectiva Psicanalítica?

Diferente das abordagens mais pragmáticas, a psicanálise não propõe “passos” para resolver a dependência emocional. Em vez disso, convida à investigação do próprio desejo e das origens do sofrimento.

Aqui estão alguns questionamentos que podem ajudar nesse processo:

🔹O que me atrai em um relacionamento? – É a companhia do outro ou o alívio da minha angústia?

🔹Tenho medo de estar sozinho ou do que posso encontrar em mim mesmo? – Muitas vezes, o maior medo não é a solidão, mas sim os pensamentos e emoções que emergem quando não estamos distraídos.

🔹Por que escolho os parceiros que escolho? – Há um padrão de vínculo repetitivo? Será que estou buscando, inconscientemente, reparar algo do passado?

🔹Quando me sinto inseguro em um relacionamento, qual é a minha reação? – Tento agradar para não ser abandonado? Me fecho para evitar o sofrimento? Busco controle para garantir que não serei rejeitado?

O processo psicanalítico permite explorar essas perguntas com profundidade e descobrir que, por trás do medo de perder o outro, muitas vezes há um medo ainda maior: o de se encontrar consigo mesmo.

Você Precisa ou Escolhe?

Se você se reconhece nesses padrões de apego, saiba que não está sozinho. O desejo de amar e ser amado é legítimo.

Mas a diferença entre um relacionamento saudável e um vínculo de dependência está justamente na resposta para a pergunta: eu preciso dessa relação para me sentir bem ou eu escolho estar nela porque agrega à minha vida?

Relacionamentos devem ser encontros entre dois sujeitos inteiros, e não tentativas de preenchimento mútuo. O amor saudável é aquele que nos liberta, não o que nos aprisiona.

Se essa reflexão despertou algo em você, talvez seja um convite para olhar com mais profundidade para sua história emocional.

Compreender as raízes dos nossos padrões afetivos é um passo essencial para construir relações mais genuínas e livres do medo da solidão.

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